Bem-vindos a primeira análise comportamental! Goku com certeza é um dos personagens mais memoráveis de Dragon Ball. Sua personalidade é marcante e irreverente. Mas, o que há por trás desta personalidade forte? O que explica suas atitudes afáveis? Neste texto levantarei minhas hipóteses e teorias sobre um dos maiores protagonistas do anime!
Analise Geral
Goku é a personificação de uma inocência considerada infantil, porém presente em uma mente adulta e um corpo muito poderoso. Entretanto, ao invés de diminuir sua destreza, somente a aumenta, pois a inocência infantil existente em seu caráter faz com que sua noção de medo e das consequências de atos perigosos não sejam tão consideradas em suas ações, exatamente como uma criança faz; crianças pagam para ver ao invés de ponderarem totalmente as circunstâncias e se preocuparem com o que isto pode acarretar. Este traço de sua personalidade permite a fácil aproximação de qualquer ser bom como também de qualquer ser mau. Seres bons rondam Goku porque sua presença é reconfortante, enquanto seres ruins o rondam exatamente pelo motivo contrário: Goku é um Saiyajin que desconhece os limites do medo, aumenta seus poderes quando extrapola suas próprias limitações e mesmo assim continua sendo extremamente inteligente quando batalha. Isto indigna ambas as partes por ótimos motivos: como alguém extremamente simplório consegue ser tão engenhoso? Geralmente, ser simplório e ser engenhoso são antônimos, mas Goku faz estes adjetivos virarem sinônimos perante sua índole divergente.
Goku vê em cada pessoa ou em cada inimigo uma oportunidade de aperfeiçoar algo. Seja em sua personalidade, em seu poder de luta ou em suas técnicas, Goku é um exímio copista: analisa as qualidades de quem o rodeia e as transcreve para seu caráter, ou melhora aspectos de si mesmo que julga necessitar de melhorias. Mesmo assim, ainda consegue ser bastante autêntico e utiliza de seu bom humor em quase todas as hipóteses. Goku possui um gênio interessante de ser analisado, a complexidade de sua individualidade, mesmo que pareça simples, traz grandes desafios a este tópico. O desafio é não resumir Goku a um adulto musculoso e viril com síndrome de Peter Pan, e sim tentar adentrar com mais propriedade dentro de sua mente compreendendo suas atitudes e ações de forma mais assertiva.
Amigos e Família
Estes dois núcleos sociais foram de suma importância para Goku. Órfão fugido do Planeta Vegeta e enviado por seu pai, Bardock, o pequeno Saiyajin é achado por um senhor lutador. Infelizmente, Goku fica órfão novamente devido à tragédia de ter se transformado em Oozaru e sem consciência alguma, assassiná-lo. É nesta hora que a vida de Goku segue um rumo único: o da solidão. Entretanto, seu jeito cativante de ser fez com que arranjasse amizades muito rapidamente; e mal sabia o rapaz de que todas elas perdurariam anos ou sua vida inteira. Estas foram de extrema importância para a formação de Goku em sua fase adulta: um homem doce porém, ao mesmo tempo, egoísta perante seus próprios ideais.
Amigos – Quem seria Goku sem Bulma, Kuririn, Mestre Kame e tantos outros em sua infância? O que seria de Goku sem todas estas mentes únicas e brilhantes em diversos aspectos, quando o mesmo já nasceu com a pré-disposição de ser autodidata? A inteligência de Bulma, o companheirismo de Kuririn, as técnicas de luta de Mestre Kame e a afetividade de ChiChi tiveram efeitos massivos em seu caráter: Goku aprendeu muito crescendo com Bulma ao seu lado, enquanto ao mesmo tempo, compreendia o valor da amizade e do carinho — valores estes que, inconscientemente, são de extrema importância para Kuririn. Mestre Kame fez do pequeno jovem um de seus pupilos e aperfeiçoou o que seus mestres anteriores haviam lhe ensinado. Já ChiChi, uma pequena apaixonada pela vida e bastante determinada, o ensinou valores afetivos complementares aos do companheirismo. A importância da junção destes dois valores moldou o Saiyajin conforme crescia, somente os aperfeiçoando. Por conta disto, o ser deveras sociável que Goku é faz com que conquiste amigos onde quer que vá, onde quer que esteja. Esta é uma virtude do “veja e aprenda” mescladas com tudo de bom que está estas pessoas o proporcionaram. Se existe alguma real virtude na pessoa de Goku, esta é ter se tornado esse ser completamente afável e companheiro. O Saiyajin deve muito aos humanos que o rodearam.
Família – Apesar de seu círculo social de amigos poder ser considerado sua família, Goku casou-se com ChiChi e teve dois filhos; criando um núcleo familiar monogâmico e heterossexual bastante comum. Todavia, há a necessidade de ressaltarmos sem ressalvas de que Goku falhou miseravelmente na criação de seus dois filhos. Apesar de ter ótimos traços de personalidade, é dentro do âmbito familiar que seus maiores defeitos vêm à tona: o egoísmo, o egocentrismo e obsessão exacerbada por lutar. Este assunto já fora abordado por mim diversas vezes, mas a importância do mesmo jamais se perderá independentemente de quantas vezes for citado: o papel imposto a Goku, de ser o único capaz de salvar a Terra (por que não ter uma guerreirA que pudesse contribuir para seu protagonismo em lutas?), de ser colocado como um obsessivo-compulsivo por duelar e também ser o agente principal do relacionamento abusivo com sua esposa o pintam uma figura extremamente machista e narcisista. Goku foi ocupado demais para cuidar dos filhos como deveria, deixando toda a responsabilidade para ChiChi; que apesar de casada com o Saiyajin, foi uma mãe solo. Este fato é extremamente triste para um personagem que, por poucos detalhes, não é o exemplo perfeito de como um ser humano deve ser altruísta e carismático. Para aprofundar com propriedade neste tópico, recomendo a leitura total dos blogs A Representatividade Feminina em Dragon Ball: Aspectos Negativos e Motivos do relacionamento de Goku e Chichi ser abusivo.
Inimigos –
Depois dos ensinamentos de Sr. Popo e Mestre Kami (ler Todos os mestres de Goku e seus ensinamentos), onde Goku aprende o valor do perdão e passa a ver seus oponentes como uma oportunidade de crescimento próprio, tudo muda na cabeça do Saiyajin. Goku passa a exterminar somente inimigos que apresentam ameaça total à Terra, enquanto outros mais fracos usa para aperfeiçoar técnicas de luta. Mesmo que possua o poder mais que necessário, Goku prefere se igualar ao inimigo e perceber onde está a virtude do mesmo. Se o ponto forte é algo que o Saiyajin desconhece, passa a estudá-lo milimetricamente enquanto a batalha ocorre, a fim de aumentar suas capacidades e melhorar aspectos de seu modo de luta. Entretanto, nem sempre é necessário que Goku tenha mestres ou inimigos para se superar. Assim como Vegeta e a raça Saiyajin, não é estritamente necessário um exemplo a ser seguido ou algum fato a ser observado; pois esta raça guerreira é suficientemente hostil para elaborar suas próprias técnicas e, a partir das mesmas, desenvolver outras e/ou mesclá-las com efeitos de aumento ou diminuição de ki.
Todavia, uma virtude importantíssima de Goku é necessária a ser ressaltada: o Saiyajin não consegue sentir ódio. Obviamente podemos retratar a morte de Kuririn na Saga Freeza como uma expressão de ódio a Freeza, mas configura-se mais como uma explosão de raiva momentânea do que um ódio propriamente dito. Se Goku realmente odiasse seus inimigos como Vegeta os odeia, expressaria tal ojeriza com ainda mais poder. Afinal, é inerente da raça Saiyajin de que sentimentos como este e semelhantes (como a raiva) possam se expressar em transformações, expansão de ki e até mesmo de massa muscular. Contudo, é nítido que Goku pouquíssimas vezes apelou para o ódio (voluntariamente) a fim de se tornar um lutador mais poderoso; também sendo nítido que seu coração bom e puro é muito mais efetivo para aquilo que se tornou do que ser um indivíduo dominado pela raiva e rancor, como Vegeta. Estes fatos também contribuem para que as entidades máximas de Dragon Ball possuam mais confiança em Goku do que em qualquer outro Guerreiro Z. Apesar de ser um delinquente perante certas situações e não pensar nas consequências de seus atos, Goku é capaz de resolver os problemas resultantes de sua mente infantilizada sem nenhuma dificuldade. Quando não é capaz de algo sozinho, Vegeta o acompanha. No entanto, é notório que Goku monitora seu colega, que um dia fora seu inimigo, para que seus picos de raiva não os prejudiquem. Vegeta também é um Saiyajin brilhante, mas o protagonismo é voltado a Goku por dois fatos: sua classe baixa mas mesmo assim de grande poder e a doçura de seu caráter. Sua doçura não é também de todo bem, pois causou sérios problemas a todos em “O Retorno de F”, por dialogar demasiadamente com Freeza e esquecer-se de seu principal objetivo: exterminá-lo.
Também considero importante frisar que Goku não é o guerreiro perfeito e passa longe disto. Pelo contrario, o trabalho pessoal e interno do Saiyajin para alcançar o que considera perfeição é constante, gerando consequências para Gohan, Vegeta, Piccolo e outros Guerreiros Z, exatamente por ter falhado. A idealização de que Goku é capaz de tudo perante seus inimigos é uma utopia e suas dezenas de mortes comprovam o que aqui fora constatado.
Final – Deste artigo, é possível concluir que Goku é o extremo oposto de Vegeta (ler Análise comportamental: Vegeta) e, sendo assim, ambos não existiriam como existem atualmente nas sagas sem a presença um do outro. Também é possível presumir que Goku, apesar de suas inúmeras qualidades, devemos parar de colocá-lo em um pedestal onde o guerreiro é uma pessoa perfeita, pois passa longe desta definição. O Saiyajin é, com certeza, alguém a ser admirado, mas admirado pelas razões certas e ter sim seus defeitos reconhecidos; ao invés de ocultados como a maioria dos fãs fazem. Nenhum de nós é perfeito, muito menos nossos heróis. Espero que a análise tenha trazido esta reflexão à tona e de que a leitura tenha sido prazerosa.